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domingo, 23 de dezembro de 2012

Dica de Literatura - Interpretação de texto - Oficina do Estudante cursi...



Postado Por 
Vera Lucia Costalonga Lopes 
Graduada em Letras /Português / Inglês pela UNIoeste – de Presidente Prudente /SP 
Pedagogia/supervisão / administração / coordenação pela Fafiprev  de Venceslau-SP
 Especialista em Docência do Ensino Superior - Pós-Graduada Pela Unipan de Cascavel-PR  

NOVIDADES NO VESTIBULAR UNICAMP-2011



Postado Por 
Vera Lucia Costalonga Lopes 
Graduada em Letras /Português / Inglês pela UNIoeste – de Presidente Prudente /SP 
Pedagogia/supervisão / administração / coordenação pela Fafiprev  de Venceslau-SP
 Especialista em Docência do Ensino Superior - Pós-Graduada Pela Unipan de Cascavel-PR  

UNICAMP 2011-Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa Matemática


Veja as questões no caderno de provas:http://www.comvest.unicamp.br/vest2011/F2/provas/portmat.pdf

Comentário das questões.

Questão 1 
Espera-se que o candidato compreenda que o jogo de palavras que dá nome à comunidade do Orkut se deve ao fato de 'mesmo' ter sido utilizado equivocadamente no aviso como substituto de ‘elevador’, equivalendo, portanto, a um substantivo. Nesse efeito de substantivação, ‘o mesmo’, que deveria remeter a elevador, por substituição, acaba funcionando como um outro substantivo na brincadeira da comunidade, associado a uma pessoa (‘o Mesmo’). Como o aviso adverte que se deve verificar se 'o mesmo' encontra-se parado no andar, a brincadeira o interpreta como uma referência ao “maníaco dos elevadores”. Na reescrita do aviso, basta repetir a palavra ‘elevador’, ou substituí-la por 'ele' ou ‘este’. São possíveis também paráfrases que evitem a repetição.Em ambos os casos, 'mesmo' não deverá constar.

Questão 2 
Textos de divulgação científica são construídos com recursos linguísticos tais como: uso de expressões como 'isto é' e 'ou seja' ao lado de conceitos ou termos técnicos, orações relativas explicativas, orações intercaladas com função explicativa (uso do travessão), uso de aposto  – todos com a função de explicar algo específico do universo científico –, uso de discurso indireto, uso  de sinônimos, entre outros. Alguns desses recursos são utilizados no texto em questão e, portanto, deverão ser mencionados pelo candidato e por ele transcritos. Na segunda parte da questão, o candidato deverá atentar para a descrição do procedimento metodológico da pesquisa no que se refere à composição dos distintos grupos de sujeitos. Se o resultado obtido é o de que não se deve tomar vitaminas após a prática de exercícios porque elas inibem o efeito do estresse oxidativo promovido pela prática física, essa conclusão foi possível pela comparação entre pessoas que fizeram exercício e tomaram vitaminas e pessoas que fizeram exercícios e não tomaram vitaminas ou seja, a diferença é justamente tomar ou não vitaminas após a prática de exercícios. Essa comparação permite afirmar que a ingestão de vitaminas após exercícios, ao contrário do que se acreditava, não promove a longevidade e a redução do diabetes tipo 2.

Questão 3 
Espera-se que o candidato observe no texto de Francisco Buarque de Hollanda a presença e a justificativa de um dicionário analógico e, portanto, possa inferir elementos para a sua definição: palavras em relação, analogias, sentidos próximos ou relacionados, palavras semelhantes que ampliam o sentido original de outra. Para tanto, o candidato deverá recorrer a pistas presentes no texto – os extensos parênteses que listam palavras relacionadas entre si (não apenas sinônimos), afirmações que mostram a possibilidade aberta pela consulta ao dicionário de escrever e dar acabamento a novas canções, fechar palavras cruzadas, decifrar enigmas.

Questão 4 
Espera-se que o candidato perceba que, a cada quadrinho, os sentidos de ‘afinação’, de ‘finura’ e de ‘grosseria’ se confundem e se fundem dentro de um processo de deslizamento de sentidos. O candidato deverá demonstrar que, no primeiro quadrinho, temos apenas a presença  da expressão ‘afinador de piano’ articulada a um diapasão, instrumento que auxilia na afinação dos instrumentos e das vozes. Trata-se, portanto, de uma relação de ‘afinação’ com o campo semântico da música. No segundo quadrinho, a presença de 'finura' é articulada a um gesto da personagem em que seus dedos mostram uma redução de espaço. Assim, ‘afinação’ desliza para ‘finura’, relacionada, nesse momento, ao campo semântico espacial em que ‘finura’ opõe-se a ‘grossura’. Finalmente, no terceiro quadrinho, em que vemos o piano partido ao meio sobre a cabeça da personagem, o deslizamento se completa, dessa vez para o campo semântico da polidez: ‘grosso’ aí se refere a um comportamento oposto à finura, delicadeza: grosseria.


Questão 5 
O candidato deverá compreender que a letra da música não redefine classificações gramaticais, mas sim
interpreta-as, dando-lhes graça e sutileza. O candidato deverá sustentar sua posição, concordando ou não com a interpretação apresentada pela letra da música. No que se refere especificamente a 'idiotismo', o candidato deverá mostrar que há primeiramente uma aproximação da definição gramatical e depois uma afirmação moral sobre a fala de determinadas pessoas.

Questão 6 
O candidato deveria mostrar que o título aponta, metaforicamente, para a indefinição constitutiva do romance.Nele, nada é dito, narrado ou descrito de modo objetivo, claro. As incertezas cercam a hipótese de adultério, que está no centro do romance, assim como os reais sentimentos e intenções das personagens permanecem na sombra. O candidato também deveria mostrar que a  não coincidência do interlocutor está marcada linguisticamente em diferentes lugares.Há uma relação  eu/tu marcada em diversas passagens (inclusive pela presença do pronome possessivo 'nossa' e pela terminação verbal em primeira pessoa do plural, que mostram uma relação entre o narrador e a personagem Capitu).Na passagem “... e a malícia está antes na tua cabeça perversa que na daquele casal de adolescentes...”,tua e daquele marcam a posição do narrador que se coloca fora da cena e se refere ao leitor como seu interlocutor.Essa relação de interlocução se rompe na passagem “Mas a vocação eras tu, a investidura eras tu”, em que a segunda pessoa se refere agora a Capitu.Essa referência é confirmada pelo vocativo: “oh minha doce companheira de meninice”.

Questão 7 
Assim como na questão 6, trata-se aqui de uma questão tanto de literatura quanto de língua portuguesa. Na
primeira parte da questão, o candidato deverá mostrar que aquilo que é descrito gramaticalmente, nos textos
pedagógicos, pode ser expandido quando se explora a linguagem. Isso é muito claro no uso de advérbios
espaciais e temporais, por exemplo, que ganham sentidos diversos dos esperados, quando justapostos a palavras inesperadas, como, por exemplo,em De manhã escureço ou O este é meu norte.Na segunda parte da questão, o candidato deveria demonstrar como o eu lírico se opõe aos outros, na medida em que ele não se orienta, como esses, pelos parâmetros convencionais da existência (Outros que contem passo por passo). Enquanto os outros se atêm à sucessão linear, cronológica dos acontecimentos, o eu lírico ignora, subverte com liberdade ou transcende limites espaciais e temporais, recriando-se continuamente (como em  Eu morro ontem ou  Nasço amanhã ou Meu tempo é quando).


Questão 8 
Em O cortiço a narração em terceira pessoa se mantém objetiva e a aproximação das personagens com o mundo animal e vegetal expressa apenas a visão do narrador, marcadamente negativa (“gula viçosa de plantas rasteiras”; “prazer animal de existir”). Em Vidas secas, o uso do discurso indireto livre nos coloca diante dos pensamentos de Fabiano. Ao contrário do que ocorre em O cortiço, a visão não é necessária ou exclusivamente a do narrador, e sim a da personagem, e não tem o mesmo grau de objetividade e univocidade (há oscilação entre positivo e negativo: “Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim, senhor um bicho...”). Em O cortiço esse ponto de vista objetivo está de acordo com a visão determinista do naturalismo, ao qual o romance se filia, que considera que as personagens são o que são em função do meio e dos fatores biológicos. Em Vidas secas, representante do romance social dos anos 30, a visão de mundo não se caracteriza por essa lógica determinista inexorável. A degradação da personagem equiparada a um animal é vista como resultante de condições sociais específicas, marcadas pela injustiça.

Questão 9 
A descoberta da verdadeira origem de Pedro Bala tem a consequência de atribuir um sentido às ações da
personagem. O que até então fora apenas luta pela sobrevivência e reação instintiva contra a violência sofrida,adquirirá um sentido de missão transformadora, com a superação da alienação política inicial. De líder de um bando de infratores, sem qualquer consciência ideológica, Pedro Bala se desenvolverá no sentido de se tornar militante de um movimento de transformação social, buscando seguir os passos do pai, em quem passa a se espelhar. Ele almeja para si uma imagem heróica similar à do pai. Jorge Amado pertence à geração dos romancistas da década de 30. A respeito desse período, fala-se geralmente em romance social. O romance é visto como um instrumento de interpretação da realidade e de sua transformação. Pode-se acrescentar que a construção de um herói positivo, no caso deste romance, aproxima o autor da vertente do realismo socialista.

Questão 10 
No romance de Manuel Antonio de Almeida, o momento alegre que vivem as personagens está em consonância com a alegria geral que representava o reencontro amoroso dos protagonistas. Na festa descrita em Vidas secas,as personagens não estão em consonância, pois em nenhum momento se afastam dos problemas que as ocupam obsessivamente durante todo o romance. Há uma dissociação total entre o evento social e o estado de ânimo das personagens. Nas Memórias, a descrição de uma festa popular do século XIX está de acordo com o caráter de romance romântico de costumes da obra. Em Vidas secas, a ênfase não é no caráter tradicional dessa festa, e sim no deslocamento das personagens, que continuam à margem, de acordo com o caráter de crítica social do romance.

Questão 11
Tanto o frade quanto o major são apresentados como  pessoas cuja conduta não condiz com a posição que
ocupam, de guardiães da moralidade e dos costumes. Em ambas as obras essa conduta irregular é apresentada de maneira irônica, acentuando seu aspecto cômico, caricatural das personagens. Apesar do humor e da ironia,o  Auto da barca do inferno se mantém fiel à sua moralidade medieval, condenando o frade ao inferno juntamente com as outras personagens acusadas de  conduta reprovável. No romance de Manuel Antônio de Almeida, tudo é perdoado e a punição, se há, é branda e não cria situações irremediáveis. Isso também está de acordo com seu caráter de romance de costumes, e cujo enredo não apresenta, como o Auto, um desfecho moralizador, de advertência, mas sim um desfecho possível, de constatação.

Questão 12 
Iracema e Rita Baiana encarnam a beleza e a exuberância brasileiras intimamente associadas à natureza local,embora de modo diverso. Como heroína tipicamente romântica, Iracema é associada a elementos da fauna e da flora brasileiras que ajudam a criar uma imagem idealizada, enobrecedora. Já a imagem de Rita Baiana é associada a elementos naturais que sugerem tanto qualidades positivas (como “o aroma quente dos trevos e das baunilhas”, “a palmeira virginal e esquiva”) quanto negativas, que tendem a uma representação bestial da personagem (como a comparação com “cobra amaldiçoada”, “cobra verde e traiçoeira” e “muriçoca doida”). Outra diferença significativa no confronto de ambas, diz respeito à origem racial representativa do Brasil: Iracema é índia e Rita é mulata. O trecho reproduzido na prova permite ainda aproximar as duas personagens na cena da sedução do português: o episódio da chávena de café oferecida por Rita a Jerônimo faz lembrar o famoso episódio em que Iracema oferece o licor da jurema a Martim, seguido da consumação do ato amoroso entre ambos. Ocorre que, no caso de Iracema, esse ato encerra uma contravenção com consequências desastrosas, pois, enquanto sacerdotisa dos tabajaras, ela tinha de permanecer virgem e jamais revelar o segredo da jurema – interdições essas que não se colocam no  caso de Rita Baiana. Já as personagens de Martim e Jerônimo representam o europeu ou o português nos trópicos, e sua interação com esse meio. Além disso, como portugueses típicos, mostram-se saudosos de sua terra natal; e ambos são homens já comprometidos, que se deixam seduzir pela beleza da mulher dos trópicos. A diferença é que Martim é caracterizado como herói colonizador, guerreiro branco que sai vitorioso de sua empreitada à custa do sacrifício da amada indígena, ao passo que Jerônimo é apresentado de maneira nada elevada (um fraco, que nada tem de heroico e chega a ser chamado de “tonto”), que sucumbe a essa sedução e à força do meio.  

Veja as provas anteriores: http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/vest_ant.html

Postado Por 
Vera Lucia Costalonga Lopes 
Graduada em Letras /Português / Inglês pela UNIoeste – de Presidente Prudente /SP 
Pedagogia/supervisão / administração / coordenação pela Fafiprev  de Venceslau-SP
 Especialista em Docência do Ensino Superior - Pós-Graduada Pela Unipan de Cascavel-PR  



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Vestibular resolução comentada









2      
O brasileiro tem noção clara dos comportamentos
éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da
corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos
padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria
mais com a Escandinávia do que com o Bruzundanga
(corrompida nação fictícia de Lima Barreto).
FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo, 4 out.
2009 (adaptado).
O  distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente
o que é moral constituiu uma ambiguidade inerente ao humano,
porque as normas morais são
a) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
b) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de
obrigação.
c) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir
cumpri-las integralmente.
d) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual
deve se submeter.
e) cumpridas por aqueles que se dedicavam inteiramente a
observar as normais jurídicas.
Resolução
O texto publicado na Folha de S. Paulo intitula-se
“Ninguém é inocente” e se refere à ambiguidade
inerente à moralidade, indicando o evidente
distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” a
norma moral. O princípio ético – a norma moral –
resulta da idealização do comportamento, ou seja, ele
postula o comportamento ideal, aquele que corres -
ponde ao que deveria ser. Ocorre que, não sendo lei –
aí está a ambiguidade –, o seu cumprimento não é
obrigatório, como corretamente se afirma na alter -
nativa b.  A alternativa d também poderia ser dada
como correta, pois as normas morais são efetivamente
criadas pelos homens e as leis são materializações de
normas e valores éticos aceitos pelo consenso, mas tais
considerações não se encontram no texto nem decor -
rem necessariamente dele.


3
No mundo árabe, países governados há décadas por
regimes políticos centralizadores contabilizam metade da
população com menos de 30 anos; desses, 56%, têm
acesso à internet. Sentindo-se sem perspectivas de futuro
e diante da estagnação da economia, esses jovens
incubam vírus sedentos por modernidade e democracia.
Em meados de dezembro, um tunisiano de 26 anos,
vendedor de frutas, põe fogo no próprio corpo em
protesto por trabalho, justiça e liberdade. Uma série de
manifestações eclode na Tunísia e, como uma epidemia,
o vírus libertário começa a se espalhar pelos países
vizinhos, derrubando em se guida o presidente do Egito,
Hosni Mubarak. Sites e redes sociais – como o Facebook
e o Twitter – ajudaram a mobilizar  manifestantes do norte
da África a ilhas do Golfo Pérsico.
SEQUEIRA, C. D.; VILLAMÉA, L. A epidemia da
Liberdade. Istoé Internacional. 2 mar. 2011 (adaptado).
Considerando os movimentos políticos mencionados no
texto, o acesso à internet permitiu aos jovens árabes
a) reforçar a atuação dos regimes políticos existentes.
b) tomar conhecimento dos fatos sem se envolver.
c) manter o distanciamento necessário à sua segurança.
d) disseminar vírus capazes de destruir programas dos
computadores.
e) difundir ideias revolucionárias que mobilizaram a
população.
Resolução
O acesso às redes imateriais possibilitou a rápida
circulação de informações e isso implicou a disse -
minação de ideias que contribuíram para a arti -
culação de movimentos contra regimes auto ritários,
que, de um modo geral, não tiveram como controlar
ou reprimir essas ações.



5
O Centro-Oeste apresentou-se como extremamente
receptivo aos novos fenômenos da urbanização, já que era
praticamente virgem, não possuindo infraestrutura de
monta, nem outros investimentos fixos vindos do
passado. Pôde, assim, receber uma infraestrutura nova,
totalmente a serviço de uma economia moderna.
Santos, M. A Urbanização Brasileira. São Paulo.
EdUSP. 2005 (adaptado).
O texto trata da ocupação de uma parcela do território
brasileiro. O processo econômico diretamente associado
a essa ocupação foi o avanço da(o)
a) industrialização voltada para o setor de base.
b) economia da borracha no sul da Amazônia.
c) fronteira agropecuária que degradou parte do cerrado.
d) exploração mineral na Chapada dos Guimarães.
e) extrativismo na região pantaneira.
Resolução
A expansão das fronteiras agrícolas brasileiras se deu
em direção à Região Centro-Oeste, que passou a
contar com melhor acesso a partir da criação de
Brasília, incrementado pelo acesso rodoviário à
região. Ao mesmo tempo em que destruía o Cerrado
(já dizimado em cerca de 50% de sua área original), a
expansão da agricultura se fazia com elevado grau de
mecanização, bloqueando a possibilidade da utilização
de mão de obra. Assim, grande parte dos fluxos
migratórios que se dirigiam para a região acabou por
concentrar-se nas cidades, intensificando a urba -
nização.


6
A Floresta Amazônica, com toda a sua imensidão, não
vai estar aí para sempre. Foi preciso alcançar toda essa
taxa de desmatamento de quase 20 mil quilômetros
quadrados ao ano, na última década do século XX, para
que uma pequena parcela de brasileiros se desse conta de
que o maior patrimônio natural do país está sendo torrado.
AB SABER, A. Amazônia: do discurso à práxis.
São Paulo. EdUSP, 1996.
Um processo econômico que tem contribuído na atuali -
dade para acelerar o problema ambiental descrito é:
a) Expansão do Projeto Grande Carajás, com incentivos
à chegada de novas empresas mineradoras.
b) Difusão do cultivo da soja com a implantação de
monoculturas mecanizadas.
c) Construção da rodovia Transamazônica, com o
objetivo de interligar a região Norte ao restante do país.
d) Criação de áreas extrativistas do látex das seringueiras
para os chamados povos da floresta.
e) Ampliação do polo industrial da Zona Franca de
Manaus, visando atrair empresas nacionais e estran -
geiras.
Resolução
Principalmente nas porções periféricas do Domínio
Amazônico, sobretudo nas áreas de transição para o
Domínio dos Cerrados, a expansão da agropecuária
comercial – soja e gado bovino – é a responsável pela
destruição da cobertura vegetal. Importante é des -
tacar que essa destruição não se deve à exaustão dos
recursos locais, mas é devida à queima da cobertura
vegetal do ambiente natural para a implantação de
pastagens ou de culturas que empregam relativa mente
pouca mão de obra e oneram demasiadamente o meio
ambiente, reduzindo a biodiversidade.



8
O fenômeno de ilha de calor é o exemplo mais
marcante da modificação das condições iniciais do clima
pelo processo de urbanização, caracterizado pela modi -
ficação do solo e pelo calor antropogênico, o qual inclui
todas as atividades humanas inerentes à sua vida na
cidade.
BARBOSA. R. V. R. Áreas verdes e qualidade térmica em
ambientes urbanos. estudo em microclimas em Maceió. São
Paulo. EdUSP. 2005.
O texto exemplifica uma importante alteração
socioambiental, comum aos centros urbanos. A
maximização desse fenômeno ocorre
a) pela reconstrução dos leitos originais dos cursos
d’água antes canalizados.
b) pela recomposição de áreas verdes nas áreas centrais
dos centros urbanos.
c) pelo uso de materais com alta capacidade de reflexão
no topo dos edifícios.
d) pelo processo de impermeabilização do solo nas áreas
centrais das cidades.
e) pela construção de vias expressas e gerenciamento de
tráfego terrestre.
Resolução
A ilha de calor ocorre quando as áreas centrais das
cidades assistem a uma elevação das temperaturas em
função da ausência de áreas verdes, da reflexão do
calor nas paredes das edificações (que retêm o calor)
e da impermeabilização do solo, na qual elementos
como cimento e demais coberturas refletem o calor
para a atmosfera.


9
Como os combustíveis energéticos, as tecnologias da
informação são, hoje em dia, indispensáveis em todos os
setores econômicos. Através delas, um maior número de
produtores é capaz de inovar e a obsolescência de bens e
serviços se acelera. Longe de estender a vida útil dos
equipamentos e a sua capacidade de reparação, o ciclo de
vida desses produtos diminui, resultando em maior
necessidade de matéria-prima para a fabricação de novos.
GROSSARD. C. Le Monde Diplomatique Brasil. Ano 3,
n.
o
36. 2010 (adaptado)
A postura consumista de nossa sociedade indica a
crescente produção de lixo, principalmente nas áreas
urbanas, o que, associado a modos incorretos de
deposição,
a) provoca a contaminação do solo e do lençol freático,
ocasionando assim graves problemas socioambientais,
que se adensarão com a continuidade da cultura do
consumo desenfreado.
b) produz efeitos perversos nos ecossistemas, que são
sanados por cadeias de organismos decompositores
que assumem o papel de eliminadores dos resíduos
depositados em lixões.
c) multiplica o número de lixões a céu aberto,
considerados atualmente a ferramenta capaz de
resolver de forma simplificada e barata o problema de
deposição de resíduos nas grandes cidades.
d) estimula o empreendedorismo social, visto que um
grande número de pessoas, os catadores, têm livre
acesso aos lixões, sendo assim incluídos na cadeia
produtiva dos resíduos tecnológicos.
e) possibilita a ampliação da quantidade de rejeitos que
podem ser destinados a associações e cooperativas de
catadores de materiais recicláveis, financiados por
instituições da sociedade civil ou pelo poder público.
Resolução
Há uma relação direta entre o padrão de consumo e a
geração de lixo; este, como subproduto das relações
de mercado, avoluma-se, cada vez mais, nos grandes
centros urbanos. A ampliação de lixões (depósitos de
lixo a céu aberto) inutiliza o solo, consolida uma área
de disseminação de gases-estufa (e outros gases tó -
xicos) e de proliferação de vetores de doenças, além de
gerar poluição dos recursos hídricos atingidos pelo
chorume.


10
O professor Paulo Saldiva pedala 6 quilômetros em 22
minutos de casa para o trabalho, todos os dias. Nunca foi
atingido por um carro. Mesmo assim, é vítima diária do
trânsito de São Paulo: a cada minuto sobre a bicicleta,
seus pulmões são envenenados com 3,3 microgramas de
poluição particulada – poeira, fumaça, fuligem, partículas
de metal em suspensão, sulfatos, nitratos, carbono, com -
postos orgânicos e outras substâncias nocivas.
Escobar, H. Sem Ar. O Estado de São Paulo. Ago. 2008.
A população de uma metrópole brasileira que vive nas
mesmas condições socioambientais das do professor
citado no texto apresentará uma tendência de
a) ampliação da taxa de fecundidade.
b) diminuição da expectativa de vida.
c) elevação do crescimento vegetativo.
d) aumento na participação relativa de idosos.
e) redução na proporção de jovens na sociedade.
Resolução
A qualidade de vida nas áreas urbanas tende a
diminuir por causa do aumento da poluição. Mesmo
com a adoção de hábitos saudáveis, a redução das
áreas verdes, as dificuldades de circulação decorrentes
da verticalização etc. não compensam o aumento das
emissões, decorrentes do aumento da frota de veículos
automotores.


11
Sobradinho
O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que
dizia que o Sertão ia alagar
SÁ E GUARABYRA. Disco Pirão de peixe com pimenta.
Som Livre, 1977 (adaptado).
O trecho da música faz referência a uma importante obra
na região do rio São Francisco. Uma consequência
socioes pacial dessa construção foi
a) a migração forçada da população ribeirinha.
b) o rebaixamento do nível do lençol freático local.
c) a preservação da memória histórica da região.
d) a ampliação das áreas de clima árido.
e) a redução das área de agricultura irrigada.
Resolução
A formação do lago de Sobradinho alagou uma porção
considerável da área do Sertão nordestino e obrigou
parcela da população a emigrar. Parte foi assentada
às margens deste novo lago, enquanto outros
deslocaram-se para as cidades.


12
Uma empresa norte-americana de bioenergia está
expandindo suas operações para o Brasil para explorar o
mercado de pinhão manso. Com sede na Califórnia, a
empresa desenvolveu sementes híbridas de pinhão manso,
oleaginosa utilizada hoje na produção de biodíesel e de
querosene de aviação.
Magossi. E. O Estado de São Paulo.
19 maio 2011 (adaptado)
A partir do texto, a melhoria agronômica das sementes de
pinhão manso abre para o Brasil a oportunidade
econômica de
a) ampiar as regiões produtoras pela adaptação do cultivo
a diferentes condições climáticas.
b) beneficiar os pequenos produtores camponeses de óleo
pela venda direta ao varejo.
c) abandonar a energia automotiva derivada do petróleo
em favor de fontes alternativas.
d) baratear cultivos alimentares substituídos pelas cul -
turas energéticas de valor econômico superior.
e) reduzir o impacto ambiental pela não emissão de gases
do efeito estufa para a atmosfera.
Resolução
A adaptação do pinhão manso a diversos tipos de
clima é um exemplo da atuação da bioengenharia no
aumento da capacidade produtiva. A adaptação do
pinhão abrirá novas perspectivas para a produção
econômica do Brasil, com possibilidades de inves -
timento no setor de biocombustíveis. Tal processo já
ocorre com outras espécies vegetais, como a soja e o
café.


13
Um dos principais objetivos de se dar continuidade às
pesquisas em erosão dos solos é o de procurar resolver os
problemas oriundos desse processo, que, em última
análise, geram uma série de impactos ambientais. Além
disso, para a adoção de técnicas de conservação dos solos,
é preciso conhecer como a água executa seu trabalho de
remoção, transporte e deposição de sedimentos. A erosão
causa, quase sempre, uma série de problemas ambientais,
em nível local ou até mesmo em grandes áreas.
GUERRA. A. J. T. Processos erosivos nas encostas.
In: Guerra. A J. T. Cunha, S. B. Geomorfologia: uma
atualização de bases e conceitos.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2007 (adaptado).
A preservação do solo, principalmente em áreas de en -
costas, pode ser uma solução para evitar catástrofes em
função da intensidade de fluxo hídrico. A prática humana
que segue no caminho contrário a essa solução é
a) a aração.
b) o terraceamento.
c) o pousio.
d) a drenagem.
e) o desmatamento.
Resolução
Com o desmatamento, a atividade humana desprotege
o solo, já que as formações vegetais retêm a água nas
copas, e as raízes, além da retenção da água, agregam
o solo, mantendo-o coeso. O desmata mento, feito
principalmente junto a encostas, expõe as áreas mais
frágeis, intensificando a erosão.




14
Em 1872, Robert Angus Smith criou o termo “chuva ácida”,
descrevendo precipitações ácidas em Manchester após a
Revolução Industrial. Trata-se do acúmulo demasiado de
dióxido de carbono e enxofre na atmosfera que, ao reagirem
com compostos dessa camada, formam gotículas de chuva
ácida e partículas de aerossóis. A chuva ácida não
necessariamente ocorre no local poluidor, pois tais poluentes,
ao serem lançados na atmosfera, são levados pelos ventos,
podendo provocar a reação em regiões distantes. A água de
forma pura apresenta pH 7, e, ao contatar agentes poluidores,
reage modificando seu pH para 5,6 e até menos que isso, o que
provoca reações, deixando consequências.
Disponível em: http://www.brasilescola.com.
Acesso em: 18 maio 2010 (adaptado).
O texto aponta para um fenômeno atmosférico causador
de graves problemas ao meio ambiente: a chuva ácida
(pluviosidade com pH baixo). Esse fenômeno tem como
consequência
a) a corrosão de metais, pinturas, monumentos históricos,
destruição da cobertura vegetal e acidificação dos
lagos.
b) a diminuição do aquecimento global, já que esse tipo
de chuva retira poluentes da atmosfera.
c) a destruição da fauna e da flora, e redução dos recursos
hídricos, com o assoreamento dos rios.
d) as enchentes, que atrapalham a vida do cidadão urbano,
corroendo, em curto prazo, automóveis e fios de cobre
da rede elétrica.
e) a degradação da terra nas regiões semiáridas, loca -
lizadas, em sua maioria, no Nordeste do nosso país.
Resolução
A acidez da chuva, ou das precipitações de um modo
geral, é natural; no entanto, as emissões, princi -
palmente as industriais e as de origem veicu lar, são
agravantes do fenômeno, aumentando sobremaneira a
acidez dessas precipitações.


16
Na década de 1990, os movimentos sociais camponeses e as
ONGs tiveram destaque, ao lado de outros sujeitos coletivos.
Na sociedade brasileira, a ação dos movimentos sociais vem
construindo lentamente um conjunto de práticas democráticas
no interior das escolas, das comunidades, dos grupos
organizados e na interface da sociedade civil com o Estado. O
diálogo, o confronto e o conflito têm sido os motores no
processo de construção democrática.
SOUZA, M. A. Movimentos sociais no Brasil contem po -
râneo: participação e possibilidade das práticas democráticas.
Disponível em: http://www.ces.oe.pl. Acesso em: 30 abr 2010
(adaptado).
Segundo o texto, os movimentos sociais contribuem para
o processo de construção democrática, porque
a) determinam o papel do Estado nas transformações
socioeconômicas.
b) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil.
c) pressionam o Estado para o atendimento das demandas
da sociedade.
d) privilegiam determinadas parcelas da sociedade em
detrimento das demais.
e) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos do
Estado.
Resolução
As ONGs – Organizações Não Governamentais –
também conhecidas como Terceiro setor, agrupam
agentes sociais que não são integralmente repre -
sentados pelas instituições governamentais.










17
Art. 92. São excluídos de votar nas Assembleias Paroquiais.
I. Os menores de vinte e cinco anos, nos quais não se
compreendam os casados, e Oficiais Militares, que forem
maiores de vinte e um anos, os Bacharéis Formados e
Clérigos de Ordens Sacras.
IV. Os Religiosos, e quaisquer que vivam em Comunidade
claustral.
V. Os que não tiverem de renda líquida anual cem mil réis por
bens de raiz, indústria, comércio ou empregos.
Constituição Política do Império do Brasil (1824)
Disponível em: http://legislacao.planalto.gov.br.
Acesso em: 27 abr. 2010 (adaptado)
A legislação espelha os conflitos políticos e sociais do
contexto histórico de sua formulação. A Constituição de
1824 regulamentou o direito de voto dos “cidadãos bra -
sileiros” com o objetivo de garantir
a) o fim da inspiração liberal sobre a estrutura política
brasileira.
b) a ampliação do direito de voto para maioria dos
brasileiros nascidos livres.
c) a concentração de poderes na região produtora de café,
o Sudeste brasileiro.
d) o controle do poder político nas mãos dos grandes
proprietários e comerciantes.
e) a diminuição da interferência da Igreja Católica nas
decisões político-administrativas.
Resolução
Embora a Constituição de 1824 tenha sido outorgada
por D. Pedro I, seu espírito não poderia contrariar a
realidade político-social do País. Isso explica, quando
de sua organização como Estado independente, as
disposições res tri tivas transcritas no enunciado,
visando assegurar o controle das classes dominantes
sobre a vida político-administrativa do Brasil Império.




18
Completamente analfabeto, ou quase, sem assistência
médica, não lendo jornais, nem revistas, nas quais se limita a
ver as figuras, o trabalhador rural, a não ser em casos
esporádicos, tem o patrão na conta de benfeitor. No plano
político, ele luta com o “coronel” e pelo “coronel”. Aí estão os
votos de cabresto, que resultam, em grande parte, da nossa
organização econômica rural.
LEAL, V. N. Coronelismo, enxada e voto.
São Paulo: Alfa-Ômega, 1976 (adaptado)
O coronelismo, fenômeno político da Primeira República
(1889-1930), tinha como uma de suas principais carac -
terísticas o controle do voto, o que limitava, portanto, o
exercício da cidadania. Nesse período, esta prática estava
vinculada a uma estrutura social
a)  igualitária, com um nível satisfatório de distribuição
da renda.
b) estagnada, com uma relativa harmonia entre as classes.
c) tradicional, com a manutenção da escravidão nos
engenhos como forma produtiva típica.
d) ditatorial, perturbada por um constante clima de
opressão mantido pelo exército e polícia.
e) agrária, marcada pela concentração da terra e do poder
político local e regional.
Resolução
O coronelismo (ou “mandonismo”), embora ainda
tenha resquícios no Brasil de hoje, predominou na
Primeira República, quando o perfil das camadas
populares era essencialmente rural. Suas raízes
remontam ao latifúndio patriarcal da Época Colonial
e traduzem a submissão do campesinato da época ao
poder econô mico, social e político dos grandes
proprietários.


19
Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da
assalariação do trabalho e socialização da produção, que foi a
característica predominante da era industrial. A nova
organização social e econômica baseada nas tecnologias da
informação visa a adminis tração descentralizadora, trabalho
individualizante e mercados personalizados. As novas tecno -
logias da informação possibilitam, ao mesmo tempo, a des -
centralização das tarefas e sua coordenação em rede interativa
de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja
entre os andares do mesmo edifício.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra,
2006 (adaptado)
No contexto descrito, as sociedades vivenciam mudanças
constantes nas ferramentas de comunicação que afetam
os processos produtivos nas empresas. Na esfera do
trabalho, tais mudanças têm provocado
a) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as
linhas de montagem sob influência dos modelos
orientais de gestão.
b) o aumento das formas de teletrabalho como solução de
larga escala para o problema do desemprego crônico.
c) o avanço do trabalho flexível e da terceirização como
respostas às demandas por inovação e com vistas à
mobilidade dos investimentos.
d) a autonomização crescente das máquinas e computa -
dores em substituição ao trabalho dos especialistas
técnicos e gestores.
e) o fortalecimento do diálogo entre operários, gerentes,
executivos e clientes com a garantia de harmonização
das relações de trabalho.
Resolução
O desenvolvimento das redes imateriais possibilitou a
separação entre a gerência e a produção. Com a maior
celeridade dos meios de comunicação, tornaram-se
mais eficazes as ações de controle da produção, mesmo
quando esta se dissemina no espaço.









21
É difícil encontrar um texto sobre a Proclamação da
República no Brasil que não cite a afirmação de Aristides Lobo,
no Diário Popular de São Paulo, de que “o povo assistiu àquilo
bestializado”. Essa versão foi relida pelos enaltecedores da
Revolução de 1930, que não descuida ram da forma
republicana, mas realçaram a exclusão social, o militarismo e
o estrangeirismo da fórmula im plan tada em 1869, isto porque
o Brasil brasileiro teria nascido em 1930.
MELLO, M. T. C. A república consentida:
cultura democrátida e científica no final do Império.
Rio de Janeiro: FGV, 2007 (adaptado).
O texto defende que a consolidação de uma determinada
memória sobre a Proclamação da República no Brasil
teve, na Revolução de 1930, um de seus momentos mais
importantes. Os defensores da Revolução de 1930 procu -
raram construir uma visão negativa para os eventos de
1889, porque esta era uma maneira de
a) valorizar as propostas políticas democráticas e liberais
vitoriosas.
b) resgatar simbolicamente as figuras políticas ligadas à
Monarquia.
c) criticar a política educacional adotada durante a
República Velha.
d) legitimar a ordem política inaugurada com a chegada
desse grupo ao poder.
e) destacar a ampla participação popular obtida no
processo da Proclamação.
Resolução
A Revolução de 1930,  apesar de promovida por gru -
pos oligárquicos opositores do governo de Washington
Luís, afirmava defender as propostas da Aliança
Liberal, recém-derrotada nas urnas; ou seja, dizia
atender as aspirações populares e de setores médios
(nos quais se incluíam os “tenentes”), defendendo um
Brasil modernizado que acabasse com os vícios da
“República dos Coronéis”.



VEJA TODAS AS QUESTÔES NO LINK:
http://www.curso-objetivo.br/vestibular/resolucao_comentada/enem/2011/enem2011_dia1.pdf

Postado Por 
Vera Lucia Costalonga Lopes 
Graduada em Letras /Português / Inglês pela UNIoeste – de Presidente Prudente /SP 
Pedagogia/supervisão / administração / coordenação pela Fafiprev  de Venceslau-SP
 Especialista em Docência do Ensino Superior - Pós-Graduada Pela Unipan de Cascavel-PR  

Sentimento do Mundo de Carlos Drummond de Andrade


Sentimento do Mundo de Carlos Drummond de Andrade

 Análise
Publicado pela primeira vez em 1940, Sentimento do mundo é o terceiro trabalho poético de Carlos
Drummond de Andrade. Os poemas deste livro foram produzidos entre 1935 e 1940. São 28 no total. Traz o olhar do poeta sobre o mundo à sua volta, tendendo para um olhar crítico e significativamente político. É uma obra que retrata um tempo de guerras, de pessimismo e sobre tudo, de dúvidas sobre o poder de destruição do homem.
Escrito na fase em que o mundo se recuperava da Primeira Guerra Mundial e em que já se encontrava
iminente a Segunda Grande Guerra, com a imposição do Estado Novo de Getúlio Vargas e o crescimento do Nazi-fascismo, percebe-se em Drummond a luta, a contestação, pela palavra, das atrocidades que o mundo parecia aceitar (“Tudo acontece, menina / E não é importante, menina”). Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo.
Em Sentimento do mundo, Drummond revê o fazer poético. Amadureceu o poeta individualista de Alguma
Poesia, tomando consciência do mundo, apesar de não se esquecer de seu coração.
O poeta de Sentimento do mundo constata que vive em “um tempo em que a vida é uma ordem”, que vive
num mundo grande, onde os homens de “diferentes cores” vivem suas “diferentes dores” e que não é possível “amontoar tudo isso/num só peito de homem”. Ele constata, arrependido, que se voltou para si e para seus ínfimos problemas:

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre. ("Mundo grande", Sentimento do mundo)

Mais que constatar ele se recusa a ser "o poeta de um mundo caduco", a ser "o cantor de uma mulher, de uma história". O poeta não será uma ilha, mas cantará "o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente"
("Mãos dadas”, “Sentimento do mundo"). O verso-cachaça dá lugar ao verso-combate, que alimenta o coração do poeta, para lhe dar forças para lutar:

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode.
Ó vida futura! nós te criaremos. ("Mundo grande", "Sentimento do mundo")

Nos poemas de Sentimento do mundo, além do traço preciso e corrosivo, próprio da escrita de Drummond, há uma imensa preocupação com os rumos que tomam as pessoas enquanto seres humanos.
Nesta obra fica claro que o individualismo está mais próximo da concordância com o modelo da situação que do protesto e que, somente unidos (“Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”), através dos mesmossentimentos, ainda que mal se compreendam (“Ele sabe que não é nem nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza...”), os homens conseguiriam modificar o mundo:
...as mãos dos sobreviventes se enlaçam,109
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer ("A noite dissolve os homens")

Não há, entretanto, otimismo na visão do poeta. É sombria e pessimista a visão de mundo que se justapõe à
esperança da revolução e da utopia. Assim, dor e esperança são os temas básicos que regem os poemas
de Sentimento do Mundo. Uma dor, talvez, maior que a esperança que a contempla, ou talvez esta não esteja tão próxima dos homens. A dor é o "Sentimento do Mundo"; dor de todos os homens e que se concentra em um só – o poeta:
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo
mas estou cheio de escravos
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor. ("Sentimento do mundo)

E, então, ele, o poeta, sente-se responsável pelas pessoas a sua volta; sofre por elas; sente-se elas. Como se vê em:
É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades,
é preciso substituir nós todos.
(...)
("Poema da necessidade")
E em:
Eu sou a Moça-Fantasma
que espera na Rua do Chumbo
o carro da madrugada. (...) ("Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte")

O "nós" é muito empregado em Sentimento do Mundo e é através do "nós" que surgirá a esperança. Ressaltese que ela, a Esperança, nunca está no presente, mas, sempre, no futuro, virá. Vem, assim como a dor,personificada em imagens possíveis de se encontrar em nosso cotidiano: o sorriso do operário, que caminha firme ("Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido"); a aurora, que dissolve a noite que traz o
sofrimento ("Aurora, / entretanto eu te diviso, ainda tímida, / inexperiente das luzes que vais acender"); o
soluço de vida, que resiste ao verme roedor de lembranças:

Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
Que rebentava daquelas páginas. ("Os mortos de sobrecasaca")
Assim, os temas políticos, o sofrimento do ser humano e as guerras, a solidão, o mundo frágil, os seres
solitários predominam. A dor humana está lá; o eu-lírico se resguarda e canta o outro, tão mais importante
que ele próprio.
Poemas de Sentimento do mundo110

1. SENTIMENTO DO MUNDO
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.

"Sentimento do mundo" é primeiro poema e o que deu nome ao livro. Ele nos revela a visão-de-mundo do
poeta: não é alegre, antes, é cheia da realidade que sempre nos estarrece, porque, por mais que sonhemos, a realidade geralmente é dura e muito desafiante.
O poeta inicia (estrofe 1) indicando suas limitações para ver o mundo:
Tenho apenas duas mãos;
mas aponta, em seguida, alguns elementos auxiliares que o ajudarão a suprir suas deficiências de visão:
escravos, lembranças e o mistério do amor (versos 3 a 5); escravos podem ser os meios escusos de que nos
utilizamos para tocar a vida e decifrá-la e dela nos aproveitarmos. O pessimismo denuncia-se com as mortes
do céu e do próprio poeta, na estrofe

2. Apesar da ajuda incompleta dos companheiros de vida ("Camaradas"), o poeta não consegue decifrar os códigos existenciais e pede, humilde, desculpas.
Nas duas últimas estrofes, Drummond pinta uma visão de futuro bem negativo, mas bem real: mortos,
lembranças, tipos de pessoas que sumiram nas batalhas da vida ("guerra", na estrofe 3).
Conclui, na estrofe 5,
que o futuro ("amanhecer") é bem negro, tenebroso. Feita só de dois versos, sintetiza seu sentimento do 111
mundo.

2. CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas
sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação de Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal.

3. POEMA DA NECESSIDADE
É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens112
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

As necessidades do poeta são postas no poema, como se assim, a carência delas fosse suprida. Mas não se
pode esperar que o canto do poeta transformasse as pessoas: "A poesia é incomunicável". E no entanto, o
poeta crê na necessidade de mudar o mundo e credita muito valor ao poema. Mas o coração do poeta é mais vasto que o mundo.
Em "Poema da necessidade", o discurso tem uma enunciação fundamentalmente determinista e apocalíptica.
Utilizando-se do recurso da anáfora (repetições), o poeta anuncia o “fim do mundo”, num cotidiano frenético.

 4. CANÇÃO DA MOÇA-FANTASMA DE BELO HORIZONTE

Eu sou a Moça-Fantasma
que espera na Rua do Chumbo
o carro da madrugada.
Eu sou branca e longa e fria,
a minha carne é um suspiro
na madrugada da serra.
Eu sou a Moça-Fantasma. O meu nome era Maria,
Maria-Que-Morreu-Antes.
Sou a vossa namorada
que morreu de apendicite,
no desastre de automóvel
ou suicidou-se na praia
e seus cabelos ficaram
longos na vossa lembrança.
Eu nunca fui deste mundo:
Se beijava, minha boca
dizia de outros planetas
em que os amantes se queimam
num fogo casto e se tornam
estrelas, sem ironia.
Morri sem ter tido tempo
de ser vossa, como as outras.
Não me conformo com isso,
e quando as polícias dormem
em mim e foi-a de mim,
meu espectro itinerante
desce a Serra do Curral,
vai olhando as casas novas,
ronda as hortas amorosas
(Rua Cláudio Manuel da Costa),
para no Abrigo Ceará,
não há abrigo. Um perfume
que não conheço me invade:
é o cheiro do vosso sono
quente, doce, enrodilhado
nos braços das espanholas.113
– Oh! deixai-me dormir convosco.
E vai, como não encontro
nenhum dos meus namorados,
que as francesas conquistaram,
e cine beberam todo o uísque
existente no Brasil
(agora dormem embriagados),
espreito os Carros que passam
com choferes que não suspeitam
de minha brancura e fogem.
Os tímidos guardas-civis,
coitados! um quis me prender.
Abri-lhe os braços... Incrédulo,
me apalpou. Não tinha carne
e por cima do vestido
e por baixo do vestido
era a mesma ausência branca,
um só desespero branco...
Podeis ver: o que era corpo
foi comido pelo gato.
As moças que’ ainda estão vivas
(hão de morrer, ficai certos)
têm medo que eu apareça
e lhes puxe a perna... Engano.
Eu fui moça, Serei moça
deserta, per omnia saecula.
Não quero saber de moças.
Mas os moços me perturbam.
Não sei como libertar-me.
Se o fantasma não sofresse,
se eles ainda me gostassem
e o espiritismo consentisse,
mas eu sei que é proibido
vós sois carne, eu sou vapor.
Um vapor que se dissolve
quando o sol rompe na Serra.
Agora estou consolada,
disse tu do que queria,
subirei àquela nuvem,
serei lâmina gelada,
cintilarei sobre os homens.
Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna
(estrelas não se compreendem),
ninguém o compreenderá.

Neste poema Drummond parte do que seria uma lenda urbana para abordar, na imagem metafórica do
espectro noturno assombrado pela solidão pós-morte, o seu isolamento e o de toda humanidade.
Assumindo a voz dramática dessa alma que vaga pelas ruas da cidade mineira em busca da comunhão 114
amorosa desconhecida em vida, o gauche assume uma sutil máscara heterônima, marcada pelo halo do
fantástico, como se sua solidão também fosse um espectro fantasmagórico a transitar pela desconcertada
modernidade do mundo caduco.
A reflexão poética sobre a solidão, tecida por Drummond nesse poema, mescla-se com o questionamento
sobre o próprio sentido do existir e já guarda, de certa forma, um embrião do pessimismo metafísico que
dominará sua escrita a partir de Claro Enigma.
O poeta-moça-fantasma se defronta diante de uma transcendência vazia, pois a morte e a possível vida
espiritual não surgem como solução para o enigma da existência, com o reencontro com o Criador, porém
como um intolerável castigo, a expiação de uma solidão eterna, “Oh! Deixai-me dormir convosco”, distante
das benesses gloriosas das promessas do paraíso que imperam no imaginário judaico-cristão.
Ultrapassar a fronteira da morte e encontrar a eternidade não propicia à Moça-Fantasma a onisciência sobre o sentido do existir, a comunhão adiada com a humanidade, o contato amoroso desconhecido, mas a
consciência da incomunicabilidade plena de um ser ainda repleto de paixões irrealizadas.
Essa alma passa a desvelar o abandono eterno do gênero humano, excluído agora de sua substância corpórea,a transpassar corpos viventes plenos de vida e jamais conseguir com eles comungar.
Esse ser etéreo, que se apresenta sensivelmente aos homens, não causa pavor ao poeta, mas apenas uma
inquietante identificação.
Resgatando a dimensão simbólica da escuridão como elemento soturno, opressor, de erupção do medonho, o ambiente da noite ressurge na trajetória dessa aparição das ruas desertas da província mineira.
Metáfora da comunhão adiada de Drummond com a humanidade, a Moça-Fantasma é aquele ente que,
apartado do mundo dos vivos, sofre por perder a dimensão humana de ser vivente que, nem em vida, nem na morte, consegue o encontro com o outro. “Morri sem ter tido tempo / de ser vossa, como as outras”.
“Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte” é uma alegoria de uma mundana-fantasma representando as vicissitudes da vida ingrata das mulheres de rua. A originalidade está na forma de representação e na forma poética feliz com que Drummond realizou o projeto alegórico. Com esse projeto, Drummond consegue mexer com o imaginário popular e mundano sempre atento aos percursos do amores marginais ou clandestinos. O espectro da moça-fantasma assume a narrativa em primeira pessoa numa intenção de apresentar uma mensagem necessária como se fosse uma purgação: “Agora estou consolada, disse tudo que queria, subirei àquela nuvem, serei lâmina gelada”.

5. TRISTEZA DO IMPÉRIO
Os CONSELHEIROS angustiados
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
“bus-co a cam-pi-na se-re-na
pa-ra li-vre sus-pi-rar”,
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé,
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático.115
A relação irônica do modernismo com a História, prato preferido de Oswald de Andrade, aparece na poesia de
Drummond.
É um poema social de crítica aos ideais burgueses.

6. OPERÁRIO DO MAR (prosa)
Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes.
Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás.
Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios.
O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do
Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando.
Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário?
Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?

O poema número 6 da obra Sentimento do mundo faz o autor escapar da linguagem poética material (versos)
e se apropriar dessa linguagem poética sem versos, mas bastante poesia imaterial, em belo painel-definição
explicita a grande diferença social entre operários e não-operários. Esta belíssima crônica poética, de base
surrealista, tão em voga nos anos 30 e 40, serve bem para duas constatações:

1ª) o sentimento socialista de Drummond que iria espraiar-se cinco anos após Sentimento do mundo, na
publicação de Rosa do povo, em 1945;
2ª) a visão-de-mundo onírica e bem poética de um operário universalizado em São Pedro; ele anda sobre
águas por graça de Deus, enquanto burgueses se espantam por não poderem realizar a mágica; isto é, aos
humildes: a magia divina, aos prepotentes: a inveja.
Esta crônica poética também pode permitir que se compare a "apreensão do mistério da palavra" nos poemas
explícitos de Drummond diante desta prosa poética; por exemplo: "minhas lembranças escorrem"
("Sentimento do mundo", estrofe 1, verso 4) e "feixes escorrem" (das mãos do operário, em "O operário no
mar", linha 26). O mistério poético de lembranças escorrem é bem mais profundo do que peixes escorrerem
imaginariamente das mãos do operário.
"Operário no mar" é um texto discursivo em prosa, sem aparato versificatório e de um grande sentido poético.
No fundo aparece como uma grande parábola poética que mede a distância entre o operário e o burguês, e
declara uma nítida separação de classes, como se percebe na passagem: “Ele sabe que não é meu irmão”. Um
poema em prosa carregado de símbolos: “Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com
uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos no mar”.
Pela leitura fica clara a distância entre o eu poético burguês e o operário. Mas há uma mudança, uma ligeira 116
metamorfose: em seu caminhar frontal e “firme”, a figura do operário se impõe. Caminha, é insistente em
suas lutas e transforma muita coisa, quase faz milagres. É uma alusão à luta trabalhista, a qual, com o tempo,
conseguirá suas vitórias, entre elas, o derretimento de gelos, a derrubada de preconceitos, e o milagre da
aproximação, a humanização.

 7. MENINO CHORANDO NA NOITE

Na noite lenta e morna,
morta noite sem ruído,
um menino chora.
O choro atrás da parede,
a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados,
das vozes extenuadas,
e, no entanto,
se ouve até o rumor da gota de remédio
caindo na colher.
Um menino chora na noite,
atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora,
em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher,
enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso
que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade,
um fio apenas.
E não há mais ninguém no mundo
A não esse menino chorando.

Drummond tem um enorme sentido social e uma vontade de que a utopia da fraternidade e solidariedade seja possível no mundo. Nesta sensibilidade enquadra-se o poema "Menino chorando na noite" que classifica-se como um poema de ternura, enquanto nele se sublinha a força da criança, como símbolo de vida, tendo em vista sua dor e os cuidados que a ele são prestados.
Um poema bastante emotivo onde o poeta sofre com o sofrimento do outro. As lágrimas caindo simbolizam a dor intensa e universal. Ser triste dói.

8. MORRO DA BABILÔNIA
À noite, do morro
descem vozes que criam terror
(terror urbano, cinqüenta por cento de cinema,
e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua geral,
Quando houve revolução, os soldados se espalharam no morro,
o quartel pegou fogo, eles não voltaram.
Alguns chumbados, morreram.
O morro ficou mais encantado.117
Mas as vozes no morro
não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado
que domina os ruídos da pedra e da folhagem,
e desce até nós, modesto e criativo,
como uma gentileza do morro.

Espaço carioca, onde o poeta aborda a violência e a gentileza (música) envolvendo os moradores.
Em “Morro da Babilônia” temos fundamentalmente um poema social. Se por um lado, por vezes, na noite, as vozes que vêm do morro provocam terror, por outro lado, também, as vozes do morro não são
necessariamente lúgubres pois dele vem, de vez em quando, o som de um cavaquinho bem afinado, “que é
uma gentileza do morro”...

9. CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos
de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
Neste poema, Drummond evidencia claramente o sentimento comungado por todos, simples mortais. É nele
que Drummond fala do "amor que se refugiou no mais baixos dos subterrâneos, do medo que esteriliza o
braço, no medo da morte e do depois da morte, e principalmente, no medo dos ditadores e no medo dos
democratas". O poema escrito há pelo menos 60 anos contrasta com a página amarela e triste da nossa
história que insiste em não virar, e se tornar passado de nossas vidas.
Em “Congresso internacional do medo” Drummond com verdade e ironia coloca o medo como o grande
dominador de nossa sociedade: “Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo do
subterrâneos. Cantaremos o medo que esteriliza os abraços...”

10. OS MORTOS DE SOBRECASACA

Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.

Neste poema Drummond enaltece o “soluço de vida” que destila um simples retrato.
O passado configurado no álbum de fotografias dos antepassados. Embora, inicialmente, as pessoas do
presente zombem dos mortos, nos últimos versos a ironia dá lugar ao intenso sentimento. Esse poema é uma
antecipação da poesia que vai falar da família e da memória. Não há como se desfazer do passado, da 118
memória, mesmo que as fotos se acabem um dia. As lembranças boas e belas que nos acontecem ficam.
O poema "Os mortos de sobrecasaca" estabelece uma tensão entre o estado de fixidez inerente à natureza do objeto fotografado e o movimento sugestivo e peculiar fornecido pela figura do verme que desliza sua
concretude formal sobre a imagem química desbotada pelo tempo. O tom de sépia descrito pelo espectador
no poema, metáfora recorrente para representar os estragos do tempo no papel "perecível" que registra a
"eternidade" do estado de fixidez, sublinha a ideia de que a fotografia, neste caso consequência do rito
familiar, fornece a possibilidade de realização de experiências óticas. Ou seja, o envelhecimento progressivo
do papel de registro (primeira sugestão de movimento através do tempo) se rebela contra o estado já
envelhecido e estático dos personagens da fotografia (natural e já registrado / congelado no momento do ato).

11. BRINDE DO JUÍZO FINAL
Neste poema Drummond mostra a sobrevivência da poesia, e dos “poetas honrados”, além da morte e de
todas as catástrofes.
Em "Brinde no juízo final", o texto é modernista e homenageia os poetas populares contra os acadêmicos.
Mostra a impotência da poesia burguesa no mundo capitalista. Fala que a poesia não é feita só de temas
nobres, consagrados, mas de termos e temas banais. Drummond faz um brinde a essa poesia considerada,
anteriormente, ridícula.

12. PRIVILÉGIO DO MAR

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.
O edifício é sólido e o mundo também.
Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.
O mundo é mesmo de cimento armado.
Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranquilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!
Podemos beber honradamente nossa cerveja.

No poema número 12, o autor continua detendo-se alegoricamente no problema social das diferenças
humanas.
Drummond aqui destila uma ironiazinha sobre a segurança no mundo: o poeta cria uma situação em que um
grupo bebe cerveja no terraço de um edifício enquanto todos olham o mar. “O edifício é sólido, o mundo
também (...) O mudo é mesmo “de cimento armado”(...) Podemos beber honradamente nossa cerveja”.
Portanto, "Privilégio do mar" é uma crítica à alienação burguesa. O poeta inclui-se entre os alienados que, se
não atingidos, não se mobilizam e desfrutam de certa tranqüilidade, privilegiados em suas moradias.119

13. INOCENTES DO LEBLON

Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe emigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.

Ainda no enfoque da visão social, o poeta fala da riqueza: "inocentes" significa os que querem ignorar; por isto fingem e se aproveitam.
Crítica à alienação dos burgueses que “tudo ignoram, ou seja, enquanto a guerra acontece, “os inocentes
passam um óleo suave nas costas, e esquecem.”

14. CANÇÃO DO BERÇO

O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.
Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos
[de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.
Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?
Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa120
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).

Um dos poemas mais interessantes e fortes do livro. De intensa carga negativa que reforça as idéias contidas
nos anteriores, como o reforço do mundo ser um “mundo caduco” (em "Elegia 1938" e "Mãos dadas"), “tempo em que não se diz mais: meu amor” (em "Os ombros suportam o mundo"), tudo está decomposto e nada mais tem importância, pois a vida é tênue, pequena, frágil e ligeira, não adiantando gritar, pois nenhum grito será ouvido; as pessoas não se solidarizam mais: “Os homens não me repetem / nem me prolongo até eles”; há uma frieza nas relações pessoais: “Os lábios serão metálicos”, e o mundo está acabado e sem importância.
Através deste poema Drummond transmite a mensagem de que desde o berço o destino está marcado: o
amor, a carne, a vida e os beijos não têm a importância imediata que a sociedade de consumo lhe dá.
No poema é elaborado um tipo de conhecimento baseado no determinismo e nas experiências negativas
centradas num tipo de discurso dogmático: "o amor não tem importância(...) nem a carne não tem
importância(...)". Tudo isto, à primeira vista parece uma antífrase profetizante que nos mostra um poeta
descrente da autenticidade do amor a partir dos comportamentos mecanizados e formalizados adotados pelos homens de seu tempo, que priorizavam a mecanização sobre os sentimentos puros e naturais.

15. INDECISÃO DE MÉIER

Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam
para não criar, todas as noites, o problema da opção
e evitar a humilde perplexidade dos moradores?
Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela,
que tortura lançam no Méier!
16. BOLERO DE RAVEL
A alma ativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto
esquiva ondulação evanescente
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador..
A música “Bolero de Ravel”, foi criada instintivamente pelo maestro Maurice Ravel (1875-1937), que queria
fornecer um exercício prático que envolvesse todos os nypes musicais e uma orquestra (cordas, percussão,
metais e sopro). Trata-se de uma canção repetitiva, que apenas retorna ao seu tema a todo instante, e a cada
repetição, intensifica um pouco mais a sua força.
Drummond trabalha as características da canção no seu poema, principalmente ao citar: “infinita,
infinitamente”, “ espiral de desejo” e “círculo ardente”.
Seu valor intrínseco está na capacidade contrastiva que o poeta estabelece entre a alma ativamente aplicada
ao desejo e à vida e o obstáculo, a distração ou o barulho que prendem ou abafam a entrega profunda à
vivência a ser protagonizada pelo homem vivo. A dinâmica da vida é destacada com leveza e verdade.

17. LA POSSESSION DU MONDE121
Neste poema 17, Drummond indica o membro da Academia Francesa de Letras, em 1884, Georges Duhamel,
pedindo uma risível fruta estragada; como se isso fosse, como diz o título do poema, ter o mundo nas mãos.
É nada mais nada menos que uma ironia forte a um cientista estrangeiro que larga sua teoria científica para
aderir ao apelo tropical de um mamão.

18. ODE AO CINQÜENTENÁRIO DO POETA BRASILEIRO
O belo elogio do poema 18 é a palavra drummondiana a Manuel Bandeira, nascido em 1886 e que, em 1936,completava 50 anos de vida. Drummond pede que "seu canto confidencial (a poesia de Bandeira) ressoe acima dos vãos disfarces do homem"!

Trata-se de um poema terno e profundo: Este incessante morrer que nos teus versos encontro é tua vida. (...) a violenta ternura, a gravidade simples, a acidez e o carinho simples, a fidelidade a si mesmo, a fraternidade, o poeta acima da guerra e do ódio, a acidez e carinho que (...) a sua pungente, inefável poesia, ferindo as almas, sob a aparência balsâmica, queimando as almas, fogo celeste, ao visitá-las (...) Por isto sofremos pelas mensagens que nos confias.

19. MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Neste poema o poeta reafirma a sua consciência da existência de outros homens, seus companheiros. Com
eles é que se sente de mãos dadas, e renunciou aos seus temas pessoais: uma mulher, uma história, a
paisagem vista da janela. Não mais se refugiará na solidão porque o que lhe interessa é o tempo presente em
que se acha inserido, e os homens que o cercam.
O poema "Mãos dadas" anuncia a utópica e festiva solidariedade humana. Como um ativista dos direitos
humanos Drummond muitas vezes nega a influência do mundo moderno em sua obra, é o fugir do individual e o olhar para o coletivo e a solidariedade.
Como vimos, em "Mãos Dadas", Drummond diz: "Não serei o poeta de um mundo caduco / também não
contarei o mundo futuro.". Isto é, o poeta não é arcaísta nem invencionista. E prossegue: "Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem da janela / Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicidas." O poeta afirma que não há espaço para o lirismo contemplativo, o escapismo romântico ou o pessimismo decadentista em sua poesia.

20. OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO 122

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

O sentimento do mundo que dá título ao livro começa a fazer presente neste poema. O poeta fala na renúncia dos seus desejos e inquietações pessoais, que só o deixarão na mais absoluta solidão: não importa a sua própria vida, o tempo que passa e a velhice que avança, em face dos problemas do mundo, dos quais ele tem uma dolorosa consciência. Sente-se solidário com os que ainda não se libertaram do sofrimento. Sua vida se impõe como uma ordem: ela deve continuar, para enfrentar a realidade de um mundo que ele imagina
carregar nos ombros e que não deve pesar mais do que a mão de uma criança.
Um poema profundo de grande significação ontológica e existencial. Seu núcleo é o que o poeta chama de
“absoluta depuração” e nele está presente mais uma vez o clima estóico e depurado da vida. Com a sombra de Ricardo Reis e tudo, das doutrinas da Stoá e até e Epicuro

21. DENTADURAS DUPLAS

Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,123
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída,
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica?...)
Resovin! Hecolite!
Nomes de países?
Fantasmas femininos?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
os delirantes lábios
apenas entreabertos
num sorriso técnico
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
afinal sossegada...
A serra mecânica
não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poéticosofístico-dramáticas
de que rezam filmes
e velhos autores.
Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
em que tantas vezes
me eu perdi.
Largas dentaduras,
vosso riso largo
me consolará
não sei quantas fomes
ferozes, secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
jamais compensadas.124
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
e por que não de âmbar?
de âmbar! de âmbar!
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida!

Sátira bem construída e bem humorada, o poema nos mostra que através das dentaduras chega a focalizar a
evanescência da vida que se vai aos poucos: "admiráveis presas, mastigando lestas e indiferentes a carne da
vida".
Há associações surpreendentes, influência surrealista e o deboche do próprio envelhecimento do eu-lírico.
Portanto, o tema deste poema dedicado a Onestaldo de Pennafort, é a velhice.

22. REVELAÇÃO DO SUBÚRBIO

Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro,
vendo o subúrbio passar.
O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa,
com medo de não repararmos suficientemente
em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.
A noite come o subúrbio e logo o devolve,
ele reage, luta, se esforça,
até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais
e à noite só existe a tristeza do Brasil.”

Este poema nos remete à ideia de que o mundo tem sentimento. As luzes são precárias e a aurora traz a visão das frutas, fatia saborosa da vida.
O título do poema reflete o inusitado efeito estético das luzes do subúrbio aos olhos daqueles que o observam durante uma viagem noturna.
O ambiente noturno interiorano é triste e contrasta com o ambiente suburbano, cheio de luzes. O “eu” lírico
vê tristeza e simplicidade no cenário do subúrbio.
Ao lermos o poema percebemos que a viagem do “eu” lírico rumo a Minas Gerais dura aproximadamente um dia.

23. A NOITE DISSOLVE OS HOMENS

A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança...
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.125
E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio...
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.

Apesar da consciência da plena incomunicabilidade dos homens, destinados a uma transcendência vazia,
Drummond tenciona o ensaio de um movimento rumo à enigmática humanidade, um deslocamento que se
tornará mais vigoroso na imagem
Essa imagem luminosa, a cromática da claridade do amanhecer e da mão redentora em poemas que desvelam um esforço de superar seus temores através de uma escrita poético-filosófica, propicia ao gauche vislumbrar um utópico futuro fraterno e superar seus temores no plano estético da criação lírico-meditativa, e surge no segundo movimento do poema “A Noite dissolve os homens”.
Todo primeiro movimento textual desse poema parece ser marcado pela imagística sombria da escuridão
noturna, (A noite desceu. Que noite!), metáfora, no macrocosmo, dos horrores do avanço nazifascista, da
alienação das massas, do totalitarismo do Estado Novo, e, no microcosmo, do sentimento de culpa, medo e
solidão do gauche. Entretanto, a claridade esperançosa de uma futura aurora surge como saída para o legado de impasses até agora experienciados.
A diluição do que havia de mais humano e grandioso nos homens dissolvidos nesse período trevoso, reificados e petrificados com o medo espalhado pela noite, encontra uma possibilidade de renascimento tal como a fênix que emerge das cinzas.126

É um importante poema de sentido sociológico e político. Ele se destaca pelo contraste que estabelece entre a noite "mortal, completa, em reticências que dissolve os homens" e a esperança da aurora que será o termo da espera: "Minha fadiga encontrará em ti seu termo... minha carne estremece na certeza da tua vida..."
Este poema foi dedicado ao pintor Cândido Portinari.

24. MADRIGAL LÚGUBRE

Madrigal lúgubre" é um tocante e trágico poema em tempo de guerra.
Poema lírico, pastoril, que valoriza um cenário alegre, bucólico, matinal e amoroso. O adjetivo lhe traz feições funéreas e macabras.
Nesse poema, o eu-lírico fala da frustração afetiva e insatisfação sexual. É um texto de intensa sátira, em que
acusa a necessidade subjetiva do amor.
Com um olhar desencantado sobre seu século repleto de crises e falências morais, o mineiro itabirano constrói o lirismo reflexivo amargo e irônico deste poema.
Em "Madrigal lúgubre" o desencanto amargo com os horrores provocados pela omissão da elite burguesa
dominante, representada metonimicamente na imagem da princesa encastelada num mundo artificial, já
assume o tom do grotesco no próprio título que unifica no mesmo plano a forma poética do Madrigal,
composição engenhosa e elegante, um galanteio dirigido às damas e o vocábulo lúgubre, que se refere ao
fúnebre, lutuoso, triste, desencantado.
ó princesa! ó donzela
em vossa casa, de onde o sangue escorre
quisera eu morar
Ao desconstruir as expectativas do que seria a função galanteadora do Madrigal, Drummond prepara o
ambiente da crítica moral dirigida à apodrecida elite burguesa dominante, seja essa cooptada pelo jogo de
interesses econômicos internacionais, ou seja, diretora da máquina do mundo capitalista. Os detentores do
poder e seu falido projeto civilizador são simbolizados na imagem da princesa omissa, de beleza longínqua que habita um mundo ilusório, à margem da espessura da vida real, e que tece com "mãos níveas e mecânicas (...)
algo parecido com um véu", alienador, mas que não consegue ocultar a crueldade de sua civilização. "O
mundo, sob a neblina que criais, torna-se de tal modo espantoso / que o vosso sono de mil anos se interrompe para admirá-lo".
As imagens grotescas da lama e dos detritos humanos, gerados por essa elite omissa, surgem no verso de
abertura do poema, que desvela o inumano soerguimento desse mundo artificial e alienado das minorias
hegemônicas detentoras do poder. A metafórica "casa feita de cadáveres" de onde o sangue escorre, a
sociedade capitalista, se erigiu através da destruição da dignidade humana, da exploração física da mão-deobra dos estratos mais inferiores da pirâmide social e se sustenta através da morte de anônimos combatentes de guerra a expandir os mercados consumidores das elites nas conquistas dos campos de batalha. Essa semântica do dejeto humano (os cadáveres) transita pelos demais versos com algumas variações vocabulares (meninos mortos, mutilados, dois mil e oitocentos atropelados).

Não vos direi dos meninos mortos
(nem todos mortos, é verdade,
alguns apenas mutilados).
Tampouco vos contarei a história
Algo monótona talvez127
Dos mil e oitocentos atropelados
No casamento do rei da Ásia (...)
Mas volta, com pungência crítica, na incômoda consciência culposa da princesa-burguesia na quarta estrofe,
onde surge a imagem grotesca e surrealista do sangue criminoso de séculos de exploração social a fluir pelas
escadarias desse castelo-mundo capitalista.
Sutil flui o sangue nas escadarias
Ah, esses cadáveres não deixam
Conciliar o sono princesa?
Mas o corpo dorme; dorme assim mesmo.

É interessante notar como Drummond assume a função de porta-voz dessas sobras humanas que regressam
dos campos de batalha ou que são exterminadas nas invasões das cidades europeias, com certo ar de
compaixão por serem tão estigmatizadas quanto ele.
A "sujeira" desse mundo é representada, escatologicamente, na imagem do "palácio em ruínas", que se corrói despertando a necessidade de despertar a velha princesa (a burguesia alienada) para a construção de um novo momento histórico-social mediante os gritos e o despertar dos mortos (os cidadãos alienados) pelo soar das trombetas. Este despertar retumbante surge como uma clara releitura social da passagem bíblica do livro “Apocalipse” (o juízo final) do Novo Testamento, como metáfora da esperança utópica de reação popular contra o atual estado caótico da sociedade.

Princesa, os mortos! Gritam os mortos!
Querem sair! Querem romper!
Tocai tambores, tocai trombetas,
Outras manifestações grotescas da imundice moral desse mundo em decomposição surgem no sexto verso da segunda estrofe na imagem do "jornal sujo, embrulhando fatos, homens e comida guardada". Há uma possível alusão aos tabloides da imprensa oficial, que compactuavam com a sujeira moral de seu tempo por distorcer os fatos, embrulhar a divulgação verídica das profundas iniquidades sociais.
Além disso, há uma clara referência aos jornais usados, sujos, que aquecem o frio dos sem tetos (embrulhando os homens) e guardam os restos de refeições lançadas ao lixo (embrulhando comida).
Num gesto de desespero, nesse madrigal fúnebre e desencantado, o poeta almeja uma reconciliação com a
distante princesa-burguesia ("arrastar-me-ei pelo morro e chegarei até vós"), mas somente vislumbra esse
acerto de contas num futuro utópico. “Adeus, princesa, até outra vida”.

 25. LEMBRANÇA DO MUNDO ANTIGO

Clara passeava no jardim com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado,
a água era dourada sob as pontes,
outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados,
o guarda civil sorria, passavam bicicletas,
a menina pisou a relva para pegar um pássaro,
o mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das onze horas,128
esperava cartas que custavam a chegar,
nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!!!
havia jardins, havia manhãs naquele tempo!!!
Novamente a persona-lírica fala da miséria humana e dos horrores da guerra (como em "Madrigal lúgubre"),
contrasta passado e presente usando a figura feminina como contraponto: uma mulher chamada Clara.
As exclamações triplas substituem as reticências, tão comuns neste livro. Pedem que com urgência e espanto
se observe que a vida foi modificada, e que o nosso mundo não é mais o mesmo. E que a mudança é recheada de horror.

26. ELEGIA 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

Neste poema o poeta volta a falar de um "mundo caduco", da existência de uma "grande máquina", sobre
caminhar "entre os mortos", e usa a segunda pessoa do singular como se estivesse falanddo consigo
mesmo: "A literatura estragou tuas melhores horas de amor", e sentencia de modo inusitado: "Aceitas a
chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição / porque não podes sozinho dinamitar a ilha de
Manhattan.". Esta ilha, referência à cidade de Nova Iorque, símbolo de um capitalismo tão injusto.
Ao contemplar a realidade e mergulhar profundamente na sua existência buscando integrar-se à humanidade,
vemos muitas vezes no livro Sentimento do mundo, o eu-lírico desdobrando-se na terceira pessoa, ou mesmo num "tu" problemático, como se fosse uma poética de auto referência, cheia de seriedade e paradoxal humor diante da realidade que parece tão errada, mas que exige uma percepção prática. Drummond conversa com seu leitor, irmana-se. Mostra-nos talvez que a eternidade é uma palavra expressa, porém de obscura compreensão.
"Elegia" era o nome dado pelos gregos a um tipo cujo tema estava ligado à morte. Seu tom era, portanto,
sempre triste, de lamentação. O ano de 1938 identifica-se com um período de grande desenvolvimento
industrial e uma grave crise social e política, que teria como uma das suas decorrências a Segunda Guerra 129
Mundial. A esse quadro o poeta refere-se como um “mundo caduco”

 27. NOTURNO À JANELA DO APARTAMENTO
Contemplação da noite e o farol da Ilha Rosa. Traz a ideia do fluxo da vida circulando.
Sentimento de sátira: poemas em que predominam a sátira e a ironia.

28. MUNDO GRANDE

Nao, meu coração não é maior que o mundo.
Ê muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo.
Por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens.
as diferentes dores dos homens.
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que elo estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai’ inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos —— voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de invidíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.130
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos

São os últimos versos do livro. Novamente as reticências, a menção do suicídio, talvez uma morte coletiva que brotava a partir da incompreensão, da falta de solidariedade que o poeta constatava tão presente entre os homens.
O poeta agora percebe que o mundo cresce entre o “amor e o fogo”, entre “a vida e o fogo”, cresce todos os dias entre os homens, e que há esperança por trás de tanta maldade e sofrimento. Mas ele agora sabe que todos nós precisamos uns dos outros para criar uma vida futura mais melodiosa e agradável e fazer renascer as cidades submersas, onde nós poderemos fechar os olhos e esquecer, para somente escutarmos a água calma batendo nos vidros, escorrendo nas mãos e inundando tudo de verdades e vidas futuras.
Neste poema o poeta observa a noite. Percebemos a ânsia do eu-poético em enlaçar destinos (o poeta / os
outros), reunir os homens, nem que seja em forma de arquipélagos.
Drummond se reconhece no mundo que precisa ser salvo, mas reconhece também o fatal distanciamento
entre os homens. Transfigura-se então de poeta solitário em poeta solidário, recria o mundo depurando-o,
buscando sua essência. Ao silêncio contrapõe a imagem poética.1

Postado Por 
Vera Lucia Costalonga Lopes 
Graduada em Letras /Português / Inglês pela UNIoeste – de Presidente Prudente /SP 
Pedagogia/supervisão / administração / coordenação pela Fafiprev  de Venceslau-SP
 Especialista em Docência do Ensino Superior - Pós-Graduada Pela Unipan de Cascavel-PR