Averdadeira Gabriela se chamava Sonia Braga interprete de Gabriela
Maria
Enredos
Gabriela Cravo e Canela
O livro inicia-se no ano de 1925. Naquele ano todos os
fazendeiros estavam preocupados com a estação das chuvas, pois nunca havia
chovido tanto. Meses depois, todos estavam preocupados com a seca, por isso
começaram a aclamar por chuvas para o padroeiro São Sebastião e São Jorge. Até
procissões foram feitas. Durante uma delas aconteceu o falado milagre e as
chuvas começaram. Choveu tanto que ficou tudo inundado.
Os mais beneficiados com as chuvas foram os fazendeiros de cacau
e café. Dentre eles estava o Coronel Manuel das Onças, que ia vender o seu
produto ao Mundinho Falcão, que era um jovem carioca que veio para Ilhéus e lá
enriquecera como exportador.
O Coronel fez três viagens e numa delas encontrou o cozinheiro
Nacib Saad, dono do bar Vesúvio, que estava desesperado, pois havia perdido sua
melhor cozinheira, Dona Filomena.
Gabriela chegara a Ilhéus junto de um grupo de pessoas, entre as
quais estava Clemente, que estava interessado nela. Numa noite os dois
deitaram-se debaixo de uma árvore enorme e lá ficaram conversando durante
horas. No outro dia, porém, Gabriela não queria méis saber dessa noite. Então
Clemente saiu de Ilhéus, mas ela lá ficou.
Um crime abalou a cidade. O Coronel Jesuíno matou Dona
Sinhazinha e o Doutor Osmundo, sua esposa e o amante dela.
Nacib precisava entregar um grande jantar, mas estava sem
cozinheira, por isso foi em busca de uma. Nas feiras nenhuma lhe serviu, mas ,
de repente, uma lhe chamou a atenção: Gabriela.
Chegando ao bar Vesúvio, Nacib mostrou os afazeres para
Gabriela,
No grande jantar, acirraram-se as diferenças políticas.
Declara-se guerra pelo poder em Ilhéus entre Mundinho Falcão (oposição) e os
Bastos (governo). Quando o jantar acaba, Nacib volta para casa e quando ia
deixar um presente para Gabriela, tem com ela a primeira noite de amor.
Um engenheiro chamado por Mundinho tende a impedir que os
grandes navios atraquem no porto de Ilhéus.
Nacib faz um pedido a Gabriela “perfume de cravo e com de
canela” se ela aceita se casar com ele. Ela pensa bem e diz que sim. Foi o
casamento mais animado de Ilhéus, Gabriela de azul celeste, de olhos baixos,
sapatos a aperta-la e um riso tímido nos lábios. O mais emocionante foi a
festa.
No último capítulo resolvem-se todos os casos. Josué e Glória
oficializam sua relação, apesar de Glória ser expulsa de casa. Coronel Ramiro
Bastos perde o apoio de Itabuna e manda matar, sem sucesso, seu ex aliado. Ele
consegue fugir, mas morre dias depois. Com isso a guerra política acaba, com
Mundinho Falcão e seus candidatos vencedores.
Quanto a Nacib e Gabriela, ela não se adapta de jeito nenhum a
vida de senhora Saad, para desespero de Nacib, que acaba anulando o casamento
ao pegá-la na cama com Tonico Bastos, o seu padrinho de casamento. Tonico foi
tão humilhado por Nacib que decidiu sair da cidade. Com isso, o casamento foi
anulado com facilidade.
Grandes obras são feitas na cidade, entre elas Nacib e Mundinho
abrem um restaurante juntos. Semanas depois Nacib e Gabriela, que procurou
trabalho no restaurante, reiniciam seu caso, tão ardente quanto era antes.
Então o Coronel, que no início matou sua mulher e o amante, é
condenado a prisão.
Trecho e Análise
“Falavam da safra anunciando-se excepcional, a superar de longe
todas as anteriores. Com os preços do cacau em constante alta, significava
ainda maior riqueza, prosperidade, fartura, dinheiro a rodo. Os filhos dos
coronéis indo cursar os colégios mais caros das grandes cidades, novas
residências para as famílias nas novas ruas recém-abertas, móveis de luxo
mandados vir do Rio, pianos de cauda para compor as salas, as lojas sortidas,
multiplicando-se, o comércio crescendo, bebida correndo nos cabarés, mulheres
desembarcando dos navios, o jogo campeando nos bares e nos hotéis, o progresso
enfim, a tão falada civilização.
E dizer-se que essas chuvas agora demasiado copiosas,
ameaçadoras, diluviais, tinham demorado a chegar, tinham-se feito esperar e
rogar! Meses antes, os coronéis levantavam os olhos para o céu límpido em busca
de nuvens, de sinais de chuva próxima. Cresciam as roças de cacau,
estendendo-se por todo o sul da Bahia, esperavam as chuvas indispensáveis ao
desenvolvimento dos frutos acabados de nascer, substituindo as flores nos
cacauais. A procissão de são Jorge, naquele ano, tomara o aspecto de uma
ansiosa promessa coletiva ao santo padroeiro da cidade.”
Nesse
trecho nota-se as características de uma obra de Jorge Amado: a zona cacaueira
da Bahia como pano de fundo, a crítica contida, quando se falam em coronéis, à
ordem social. Além disso, ao longo do livro vê-se outras características, como
o romance nas camadas mais pobres da sociedade e ênfase ao erotismo e a
sensualidade da mulher brasileira, caracterizada por Gabriela.
Capitães da Areia
O livro se passa nas areias e nas ruas de Salvador, na Bahia.
Nesse cenário, o autor desenvolve a história dos meninos de rua, que vivem num
trapiche abandonado em um porto. Os motivos de estarem lá eram os mais
variados: alguns ficaram órfãos, outros fugiram dos maus tratos de casa, outros
foram abandonados...
São quase quarenta meninos, entre os nove e dezesseis anos, de
todas as raças. O líder desses meninos era Pedro Bala, um rapaz loiro, de
quinze anos, com uma grande cicatriz no rosto, causada por uma briga que lhe
rendeu a liderança do grupo. Bala já vivia na rua há dez anos e conhecia cada
palmo da cidade.
Os garotos apareciam na rua, sujos e esfomeados, fumando pontas
de cigarro e falando palavrões. Durante o dia, ou mendigavam, ou praticavam
pequenos furtos para poderem comer.
Além disso, praticavam grandes roubos, que fizeram a população
temer e a polícia procurar os “Capitães da Areia”, como eram conhecidos. Os
meninos pegos eram levados a um reformatório, que passava a imagem de
“modelador de caráter” para os jovens delinqüentes. Mas sabendo que lá estariam
sujeitos a todos os tipos de castigos, todos preferiam continuar nas ruas.
Alguns meninos se destacavam no grupo:
Sem-Pernas, que recebeu esse apelido por ser coxo e se
aproveitava disso para causar pena nas pessoas, que o levavam para suas casas,
onde ele fazia o trabalho de espião: observava onde estavam os objetos de valor
e depois avisava os amigos que assaltavam a casa. E depois fugia com eles de
volta ao trapiche.
João Grande, negro de treze anos, era forte e o mais alto de
todos. Tinha pouca inteligência, mas era temido e bondoso.
José, o Professor, único que lia corretamente, tinha ido à
escola apenas um ano e meio. Era míope e gostava de contar histórias. Sua
imaginação solta criou os melhores planos de roubo.
Pirulito era um tanto religioso, magro e alto. Tinha o rosto
seco e amarelado e não era de muito riso.
Gato, o malandro do grupo, era metido a elegante e queria se
vestir bem. Tinha um caso com uma prostituta chamada Dalva, por isso muitas
noites não dormia no trapiche.
Volta-Seca, um mulato sertanejo, se orgulhava de ser afilhado de
Lampião. Vivia imitando passarinhos.
Boa-Vida era um dos que pouco participava das atividades do
grupo. De vez em quando roubava algo que passava diretamente para Bala, para
colaborar com o grupo. Vivia para tocar violão e jogar cartas, ou então ficar
sem fazer nada.
Os Capitães da Areia contavam também com a ajuda de alguns
adultos: Don’aninha, mãe de santo, sempre disposta a ajudar; Padre José Pedro,
que conquistou a confiança dos meninos e vinha lhes trazer conforto e carinho.
O Pescador Querido-de-Deus e o estivador João-de-Adão tinham a confiança dos
meninos, que, por sua vez, não mediam esforços para recompensar esse apoio.
Foi através do próprio João-de-Adão que Pedro Bala ficou sabendo
do passado de sua família. Seu pai, Raimundo, havia morrido baleado numa greve,
lutando pelos estivadores. A mãe de Bala falecera quando ele tinha só seis
meses.
Um dia, Salvador foi assolada pela epidemia de varíola. Como os
pobres não tinham acesso à vacina, muitos morriam, isolados no lazareto.
Almiro, o primeiro capitão a ser infectado, ali morreu. Já Boa-Vida teve outra
sorte; saiu de lá, andando. Dora e o irmão, Zequinha perderam os pais durante a
epidemia. Ao saber que eram filhos de bexiguentos, o povo fechava-lhes a porta
na cara. Não tendo onde ficar, os dois acabaram no trapiche, levados por João
Grande e o Professor.
No trapiche, Dora causou espanto e confusão, que foi contornada
por Pedro Bala. Assim Dora passou a fazer parte dos Capitães da Areia e,
vestida como um deles, participava das atividades do bando. Aos poucos, Pedro
Bala percebeu que estava apaixonado. Dora que já era antes como sua irmã, sua
mãe, era agora também sua noiva.
Quando roubavam um palacete de um ricaço na ladeira de São
Bento, foram presos. Parte do grupo conseguiu fugir da delegacia, graças à
intervenção de Bala que acabou sendo levado para o Reformatório. Ali sofreu
muito, preso na cafua (espaço pequeno, embaixo de uma escada, onde não
conseguia nem esticar as pernas) ou fazendo trabalhos forçados, mas conseguiu
fugir. Em liberdade, preparou-se para libertar Dora. Um mês no Reformatório
feminino foi o suficiente para acabar com a alegria e saúde da menina que,
ardendo em febre, se encontrava na enfermaria.
Os garotos conseguiram tirar Dora do Reformatório, mas ela
estava muito doente e morreu nos braços de Pedro Bala, que havia tornado-a sua
esposa. Don’aninha enrolou-a numa toalha branca e Querido-de-Deus jogou-a em
alto mar. Pedro, inconsolável, sentiu por dias a ausência de Dora.
Alguns anos se passaram e o destino de cada um do grupo foi
tomando rumo. Graças ao apoio de um poeta, o Professor foi para o Rio, e já
estava expondo seus quadros. Pirulito, que já não roubava mais, entrara para
uma ordem religiosa. Sem-Pernas morreu, quando fugia da polícia. Volta-Seca
estava fazendo o que sempre tinha sonhado; aliou-se ao bando de seu padrinho, Lampião,
tornando-se um terrível matador de polícia. Gato estava em Ilhéus, trapaceando
coronéis. Boa-Vida, tocador de violão e armador de bagunças, pouco aparecia no
trapiche. João Grande embarcou como marinheiro, num navio de carga.
Após o auxílio na greve dos condutores de bonde, o bando
Capitães da Areia de Pedro Bala, tornou-se uma "brigada de choque",
intervindo em comício, greves e em lutas de classes. Assim como Pirulito, Bala
havia encontrado sua vocação. Passando a chefia dos Capitães da Areia para
Barandão, seguiu para Aracaju, onde iria organizar outra brigada. Anos depois,
Pedro Bala, conhecido organizador de greves e perigoso inimigo da ordem
estabelecida, é perseguido pela polícia de cinco estados.
Trecho e Análise
“Vão para a porta do sindicato. Entram homens: negros, mulatos,
espanhóis e portugueses. Vêem quando João de Adão e os outros estivadores saem
entre vivas dos operários das linhas de bonde. Eles vivam também. João Grande e
Barandão porque gostam do doqueiro João de Adão. Pedro Bala não só por isso,
como porque acha bonito o espetáculo da greve, é como uma das mais belas
aventuras dos Capitães da Areia. (...)
Os homens valentes têm uma estrela no lugar do coração. Mas
nunca se ouviu falar de uma mulher que tivesse no peito, como uma flor, uma
estrela. As mulheres mais valentes da terra e do mar da Bahia, quando morriam,
viravam santas para os negros, como os malandros que foram também muito
valentes.”
Através
desse trecho percebemos as principais características de Jorge Amado: a trama nas
camadas baixas da sociedade, a ideologia política relativamente comunista, a
Bahia como pano de fundo, citações da cultura negra, enfim, Capitães da Areia é
o que se pode chamar de uma obra típica de Jorge Amado.
O País do Carnaval
A obra conta a história de Paulo Rigger que perdera o pai, rico
fazendeiro de cacau na Bahia, quando ainda era um estudante de ginásio. A
última vontade do velho Rigger foi que mandassem Paulo formar-se na
Europa. Paul, terminado o ginásio, seguiu para Paris para formar-se
doutor.
Na sua volta ao Brasil, aos 26 anos, Paulo encontrou uma
francesinha chamada Julie, pela qual sentiu forte atração. Começaram um caso e,
chegando à Bahia, foram morar numa cidade pacata chamada Garcia, na chácara da
família. Lá, Julie o traiu com o negro Honório.
Paulo, sempre envolvido em rodas jornalísticas, começou a
trabalhar em um jornal chamado “O Estado da Bahia”, onde fez muitas amizades,
dentre as quais se destaca Pedro Ticiano.
Algum tempo depois, Paulo apaixona-se por Maria de Lurdes. Maria
de Lurdes, ao revelar que não era mais moça, que já havia se entregado a outro
homem, desilude Paulo, que a deixa.
Paulo sentia-se cada vez mais só e sofreu muito com a morte de
Pedro Ticiano.
Sem Julie, Maria de Lurdes e Pedro Ticiano, Paulo decide voltar
à Europa e deixar para trás o país do carnaval.
Trecho e Análise
“Adiante, um senador, um fazendeiro, um bispo, um diplomata e a
senhora do senador conversam na boa paz burguesa dos que têm o reino da terra e
a certeza de comprarem no céu.
- Sim – diz o fazendeiro – foi regular a
safra. Mas os preços...
- Ora, coronel, o senhor quer dizer a mim?...
Mesmo pelo preço que está, o café continua a dar um lucro fabuloso... è a
riqueza de São Paulo e a do Brasil.
- Mesmo porque o Brasil é São Paulo! – fez a
senhora do senador, bairrista de irritar.
- Oh, minha senhora! Perdoe-me se discordar de
V. Exª mas...
Era o diplomata que falava. Primeiro-Secretário da Embaixada em
Paris, ainda estava inédito o seu primeiro serviço à Pátria. Nascera ba Bahia e
trazia no sangue e no cabelo a marca dos deboches de avôs portugueses e
avós africanas.
- Mas há outros grandes Estados... Olhe a Bahia,
minha senhora. A Bahia, veja V. Exª, produz tudo... Cacau. Fumo. Feijão. E
produz homens, minha senhora, grandes gênios... Rui Barbosa era baiano”.
Nesse trecho podemos perceber algumas características de Jorge
Amado: apesar de se tratarem de personagens ricos, o que não é comum em sua
obra, vê-se claramente a crítica à burguesia, à situação social, enfim,
deixando a vista uma de suas ideologias políticas. Além disso, como é normal
das obras de Jorge Amado, há o enfoque na plantação do café e cacau.
Conclusão
A literatura é uma caixa de mistérios e mensagens ocultas, que
exigem nossa interpretação. E Jorge Amado incorpora bem esses detalhes em seus
trabalhos. Através do desenvolvimento desse trabalho aprendemos a ler, não como
o simples ato, mas com atenção, com visão crítica, comolhos de intérprete. E só
então vemos a grandeza da obra de Jorge Amado.
Em seus livros, Jorge colocou seus amores, suas ideologias, sua
fé. Por exemplo, ele sempre foi admirador da cultura negra e esse tema é muito
visto em seus livros. Através de seus livros, Jorge espalhou seus ideais de
igualdade e de justiça social, resultado de seu trabalho com o partido
comunista.
Jorge Amado foi uma figura iluminada, a quem devemos algumas das
melhores obras da literatura brasileira.
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