Para entender Drummond
PaPara entender Drummond
Para compreender a obra de Carlos Drummond de Andrade,
conversamos com Marcos Siscar, poeta e professor de teoria literária, que ajuda
a encontrar os caminhos na obra do mineiro.a compcom Marcos Siscar, poeta e profiro
"Sua obra estava envolvida nas discussões mais
polêmicas da vida literária", afirma o professor e poeta Marcos Siscar.
Em 1924, o mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
reuniu alguns poemas e organizou o 25 Poemas da Triste Alegria, seu
primeiro livro, feito por ele mesmo artesanalmente. "Ah, que os tapetes
não guardem/ a sombra inútil dos meus passos.../ Eu quero ser, apenas, um homem
que sorriu e que passou, erguendo a sua taça, com desdém", escreveu o
poeta em A sombra do homem que sorriu. Se o poeta queria que sua sombra não
fosse guardada por nós, felizmente não foi o que aconteceu. Drummond saiu de
Itabira, em Minas Gerais, para conquistar os brasileiros e ser eterno.
"Vai, Carlos! ser gauche na vida", diz o poeta no Poema de sete faces,
do livro Alguma Poesia (1930), o primeiro publicado pelo
poeta.
Durante seus 84 anos de vida, Drummond passou por duas ditaduras - a de Getúlio Vargas (1937-1945) e dos Militares (1964-1985) -, foi funcionário público por 35 anos, teve ligações com ideais comunistas e um profundo contato com jornais, como redator e cronista. A vida do poeta deixou marcas em sua obra. "O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente", diz ele no poema Mãos Dadas, do livro Sentimento do Mundo (1940). Era um inconformado com os problemas sociais, não entendia as guerras, estranhava, mas se confortava, com a solidão. Drummond, que publicou mais de 50 livros, entre poemas, crônicas e contos, escreveu sobre o amor, a morte, o cotidiano, a infância, a família, a vida. Enfim, Drummond merece ser lido por trazer alma às palavras.
Conversamos com o poeta Marcos Siscar, um dos grandes nomes da poesia contemporânea brasileira, para entender mais sobre a aura da poesia de Drummond. Siscar, que tem sete livros publicados, também é professor de Teoria Literária na Unicamp. "O que gosto em Drummond é a capacidade que ele tem de ir a fundo em cada coisa miúda, radicalizando as consequências dos pequenos gestos"
Durante seus 84 anos de vida, Drummond passou por duas ditaduras - a de Getúlio Vargas (1937-1945) e dos Militares (1964-1985) -, foi funcionário público por 35 anos, teve ligações com ideais comunistas e um profundo contato com jornais, como redator e cronista. A vida do poeta deixou marcas em sua obra. "O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, / a vida presente", diz ele no poema Mãos Dadas, do livro Sentimento do Mundo (1940). Era um inconformado com os problemas sociais, não entendia as guerras, estranhava, mas se confortava, com a solidão. Drummond, que publicou mais de 50 livros, entre poemas, crônicas e contos, escreveu sobre o amor, a morte, o cotidiano, a infância, a família, a vida. Enfim, Drummond merece ser lido por trazer alma às palavras.
Conversamos com o poeta Marcos Siscar, um dos grandes nomes da poesia contemporânea brasileira, para entender mais sobre a aura da poesia de Drummond. Siscar, que tem sete livros publicados, também é professor de Teoria Literária na Unicamp. "O que gosto em Drummond é a capacidade que ele tem de ir a fundo em cada coisa miúda, radicalizando as consequências dos pequenos gestos"
Algumas
questões respondidas por Marcos Siscar sobre Drummond.
Pode-se
dizer que Drummond é Universal?
Se "universal" quer dizer que ela pode ser lida
fora do Brasil, certamente a poesia de Drummond é universal, embora carregue um
forte "sotaque" brasileiro (assim como, digamos, Valéry tem sotaque
francês; e o americano T. S. Eliot, sotaque inglês), ou seja, uma forma de
dizer as coisas que nos coloca na proximidade com aquilo que acreditamos que
somos e desarticula, ao mesmo tempo, esse espaço de identidade. Então, a
questão mais imediata, a meu ver, seria esta: por que acreditamos que essa obra
nos representa, e de que maneira ela nos coloca em relação com outros povos e
culturas? O que mais me interessa nem é tanto a universalidade de uma obra, mas
a disposição que ela manifesta de fazer a "experiência do
estrangeiro", segundo uma expressão do poeta alemão Hölderlin. Seria
estimulante reler Drummond, repensando a situação por este prisma.
O que
representa o poema No Meio Do Caminho?
Tradicionalmente, o poema é visto como uma provocação
dirigida às concepções mais tradicionais da linguagem e da poesia. Até por
isso, tornou-se um ícone da demolição vanguardista. Quando li o poema pela
primeira vez, no Ensino Médio, no início dos anos 80, o modernismo já havia se
tornado a narrativa vencedora da história literária no Brasil. "No meio do
caminho" já não era uma afronta à convenção poética, mas o registro uma
espécie de heroísmo inaugural, definitivamente incorporado à nossa maneira de
ver a poesia do século XX. O procedimento reiterativo, ligado inicialmente a um
efeito de corrosão, não deixou de transformar em monumento poético determinada
experiência do obstáculo ou do bloqueio. Por isso, ao tornar-se parte das
coisas supostamente superadas, esse lado iconoclasta do poema poderia acabar
soando ingênuo aos nossos ouvidos, não fosse o que continua havendo nele de
inquietante como experiência do cansaço e da memória.
Em termos mais gerais, é possível dizer que o poema tornou-se uma espécie de relíquia para a poesia brasileira, com todo o aparato religioso daquilo que nos "religa" a nós mesmos, isto é, à nossa ideia de tradição poética. Penso que nossa relação com poemas desse tipo não deve ser nem alérgica nem devota. Seria mais relevante nos perguntarmos por que razão um poema do bloqueio se transforma, de uma geração a outra, em uma espécie de bloqueio para nossa experiência poética do contemporâneo.
Em termos mais gerais, é possível dizer que o poema tornou-se uma espécie de relíquia para a poesia brasileira, com todo o aparato religioso daquilo que nos "religa" a nós mesmos, isto é, à nossa ideia de tradição poética. Penso que nossa relação com poemas desse tipo não deve ser nem alérgica nem devota. Seria mais relevante nos perguntarmos por que razão um poema do bloqueio se transforma, de uma geração a outra, em uma espécie de bloqueio para nossa experiência poética do contemporâneo.
Drummond
se recusou a entrar na Academia Brasileira de Letras e receber prêmios.E foi
funcionário público por quase toda vida.Como isso aparece em sua obra?
Aceitar um prêmio
e ser funcionário público não são coisas da mesma ordem. Ser funcionário
público não é um prêmio, salvo em circunstâncias específicas; pode ser uma
conquista, eventualmente; mas, em qualquer caso, continua sendo um trabalho. O
modo como Drummond chegou ao serviço público e a maneira pela qual o exerceu é
outra história, claro, e mereceria atenção. Há contradições fortes aí. Mas isso
também está ligado à esfera mais ampla da trajetória e da experiência de
Drummond, que teve que carregar a contradição de ser filho de fazendeiro e
comunista: sofreu com essa contradição, mas aceitou as vantagens dela,
igualmente. A obra de Drummond é farta em consequências. Basta ler os Boitempo
[nome que Drummond deu a três livros], que são livros memorialísticos para se
ter uma noção do que isso representa para o poeta.
Quais são
as características mais influentes da obra Drummondiana?
O que gosto em Drummond é a capacidade que ele tem de ir
a fundo em cada coisa miúda, radicalizando as consequências dos pequenos gestos.
Além disso, tenho muita simpatia pela "irritação" com que vai,
paralelamente, colocando em xeque tudo aquilo que assume ares de porto seguro
da boa consciência poética e política. Até por isso, o livro Claro Enigma
(1951) continua a me mobilizar especialmente, tanto pelos textos densos e
desiguais como pelo incômodo que causou na recepção crítica da obra do poeta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://veramelo.blogspot.com.br/